Informação é de dirigente de entidade, referindo-se ao aumento de entregas por aplicativo, remanejamento de limpeza em SP
As ruas silenciosas das noites de São Paulo na pandemia são cortadas apenas por roncos de motocicletas. No tranquilo bairro da Chácara Klabin, João Silva (nome fictício), porteiro de um edifício acaba seu turno e, às 22h, se dirige ao metrô, por um caminho cercado de prédios e casas arborizadas.
“Hoje o trabalho foi duro. Tem sido sempre assim nos últimos tempos. Trabalho desde 1992 neste prédio e nunca vi tanta coisa para fazer. Antes da pandemia, eram duas ou três entregas por dia. Hoje são pelo menos 20. Estou trabalhando muito mais”, diz João, um potiguar de 48 anos, que recebe cerca de R$ 1,4 mil por mês.
Em passos tranquilos, antes do momento de começar a ficar ofegante, ele continua, falando sobre a limpeza.
“O pessoal da limpeza também está trabalhando mais. Limpam dependências e elevadores de duas a três vezes ao dia. Antes da pandemia, era só uma”, conta.
As declarações de João mostram que, enquanto os motoristas de entrega por aplicativos transitam de um lado para o outro, eles realçam, com força, um novo modelo de vida, que já vinha se estabelecendo antes de a covid-19 surgir.
Estas idas e vindas, aliadas à necessidade do aumento da higiene, fez o trabalho em condomínios de apartamentos aumentar 100% desde março de 2020, quando se iniciou o primeiro isolamento para conter o coronavirus.
A informação é de José Roberto Graiche Júnior, presidente da AABIC (Associação de Administradora de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo).
“A portaria precisa ter mais atenção que o usual, porque a demanda do e-commerce e das entregas também de fast-food, entre outras, aumentaram muito, bem como o controle do fluxo de entrada e saída de mercadorias e o recebimento. E a limpeza também foi redobrada, porque com a necessidade de higienização em mais vezes e maior quantidade, houve um aumento também na limpeza do condomínio. Ou seja, dobrou o serviço de todas as atividades, durante a pandemia”, afirma.
Ele explica que, na administração da rotina de um edifício, além da limpeza e da portaria, o trabalho da zeladoria completa esse trio de compenentes. As responsabilidades do zelador também aumentaram, afirma.
“A zeladoria aumentou o trabalho diário, porque precisa ter mais fiscalização das áreas comuns, o controle da limpeza, a organização da portaria, o fluxo de pessoas que estão usando áreas comuns, quando é permitido ou proibido, por exemplo”.
Dinâmica maior
O dirigente admite que esses funcionários passaram a ter mais problemas para administrar tanto trabalho dentro da carga horária.
“A maior dificuldade que os funcionários têm é ter que conseguir cumprir com essas atividades dentro no horário estabelecido da sua jornada de trabalho”.
O trabalho na limpeza, portanto, teve de ser readaptado em muitos prédios, para que as áreas de maior circulação sejam mais higienizadas
“Em algumas vezes, por exemplo na questão de limpeza, é necessário limpar menos vezes algumas áreas que estão ociosas, para conseguir higienizar as outras que estão sendo mais utilizadas e têm maior circulação, que exigem mais atenção. Então, essa conciliação de horário, ou de quando um funcionário adoece, em que há necessidade de remanejar o quadro de horário, escala de folga, enfim, as administradoras e síndicos estão com esse trabalho adicional de organizar e readequar a operação do condomínio”, observa Graiche Júnior.
Ele conta que 65% dos funcionários alocados em condomínios são orgânicos, ou seja, são registrados pelo condomínio, que paga os seus salários, com folha de pagamentos, encargos e benefícios processados pelas administradoras. Os outros 35% são terceirizados e remunerados por empresas. O serviço aumentou não só para as empresas, mas também para as administradoras, segundo ele.
“Os recursos humanos e departamentos pessoais das administradoras estão trabalhando mais, com mais intensidade, para poder organizar, orientar escalas de trabalho, reorganização, inclusive os gerentes de atendimento que conhecem a operação do condomínio e auxiliam também, para que seja possível acomodar, com o mesmo contingente, esses novos serviços que os condomínios passaram a ter durante a pandemia”, destaca.
Nestes tempos, segundo Graiche Júnior, a dinâmica passou a ser muito maior, com permanentes mudanças de fase de isolamento, pelo poder público e de escala, por causa de funcionários que são contamidados pelo vírus.
“Passamos a oferecer consultoria com mais horas do dia, para poder entender e interpretar os decretos que que surgem, acomodar situações emergenciais de funcionário, pois o posto exige que se remaneje os funcionários por meio de folguistas, zeladores ou faxineiros”.
E mesmo não entrando em crise como outros setores, a situação não deixa de ser delicada, porque muitos moradores acabam sendo afetados financeiramente pela pandemia.
“O mercado nem se aqueceu, nem teve queda. Porém o condomínio é uma reunião de pessoas que possuem outras atividades, então os moradores são, muitas vezes, assalariados ou donos de empresas e tudo que reflete na economia, acaba refletindo diretamente para dentro do condomínio, afinal o pagamento de serviços é dividido por todos os residentes”, completa.
Fonte:R7
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